sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

BELEZA ROUBADA

 A “beleza”, por assim se dizer, de filmes como Biutiful e Gomorra (Itália, 2008) é que podemos ver que no primeiro mundo há tanta miséria e bandidagem quanto aqui em Terra Brasilis. O problema de Biutiful é que Alejandro González Iñárritu mais uma vez cometeu exageros totalmente dispensáveis a fluidez da história.

Conhecido pela sua trilogia do mundo-cão, iniciada no México com o espetacular Amores Brutos (2000) e seguido, já em Hollywood, pelo ótimo 21 Gramas (2003) e pelo mediano mas igualmente angustiante e humano Babel (2006), o diretor Iñarritu, com a ajuda do roteirista Guillermo Arriaga, brindava seus espectadores com histórias depressivas de pessoas no fundo do poço, que não buscavam redenção, embora ela acabasse vindo de alguma maneira, mesmo que menos ortodoxa. Os exageros que vimos e até relevamos em Babel (principalmente no núcleo japonês da trama) são explorados ao máximo agora em Biutiful e não há como não soarem forçados. Parece que os roteiristas Armando Bo e Nicolás Giacobone, que tiveram também colaboração do próprio Iñarritu, pegaram a receita daquela trilogia, tacaram os ingredientes no liquidificador e misturaram tudo com uma pitada insossa de sobrenatural: o resultado foi um filme longo demais que é sustentado apenas pela maestria de Javier Barden (como se ele precisasse de um filme escada para catapultar sua carreira...) e pela música de Gustavo Santaolalla (de Brokeback Mountain, Na Natureza Selvagem e Diários de Motocicleta). A fotografia de Rodrigo Pietro dá ao filme a crueldade do mundo cão que o subúrbio espanhol no inverno deve ter, com sua tristeza e melancolia nada característicos de um país latino, mas que refletem a angústia dos personagens.

A fita conta a história de Uxbal (Barden), um negociante de mão-de-obra escrava vinda da China e produtos falsificados vendidos pelos imigrantes senegalezes e feitos pelos chineses na fábrica onde trabalham e dormem em seu porão fétido e gelado, fábrica essa comandada por dois chineses homossexuais (!!!). Entre uma propina  e outra aos policias para fazerem vista grossa aos seus negócios, Uxbal acha tempo para cuidar dos dois filhos pequenos, aturar a ex-mulher alcoólatra e bi-polar que dá para seu irmão sem ele saber, e ainda fazer um bico como vidente, pois tem um dom de se comunicar com os mortos pouco tempo após sua morte. Se não fosse o bastante, ele enfrenta um câncer de próstata terminal, que lhe dá menos de dois meses para ajeitar a vida de seus filhos e a sua própria, por assim se dizer. Lembram da redenção nada ortodoxa? Pois é, aqui está ela.

Entenda, o filme não é ruim. Há momentos líricos e de verdadeira emoção que o cinema deve passar ao espectador. Mas a fórmula de Iñarritu começa a dar ar de desgaste. Mesmo que ele tenha tentado, talvez por isso, incluir novos elementos em sua narrativa, ainda não foi dessa vez que acertou. Ele está correndo muito, muito mesmo, o risco de se tornar um M. Night Shayamalan, que tem apenas uma fórmula em seus filmes e já bem, bem desgastada. Ainda há tempo de se reinventar. Afinal, ninguém pode ser tão miserável assim...

Confira o Trailer:




Confira algumas cenas de bastidores:


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